9 de dez. de 2008

Favela em São Paulo: Um cenário alternativo de trabalho!

Continuando meu caminho de atuação em projetos sociais, na mesma semana em que fui para o interior do Pará tive que atuar em uma favela em São Paulo.

Na verdade, este cenário não me espanta. Conheço várias favelas no Rio e algumas em São Paulo e estou, digamos, ambientada com este cenário. Não tenho medo de entrar em uma, mesmo se houver traficantes visivelmente armados ou armas pesadas.

Atualmente estou responsável pela implantação do projeto em que atuo em uma favela no Morumbi aqui em São Paulo. O lugar é extremante pobre. Inicialmente haviam em torno de 1.500 famílias morando no local. Com a construção de um Shopping de altíssimo luxo ao lado (o local é muito disputado, pois fica no Morumbi, ao lado de diversas mansões, e beirando a Marginal Pinheiros), vários terrenos vieram sendo desocupados e a favela diminuiu para em torno de apenas 400 famílias.

Para falar a verdade, já freqüento aquele local desde fevereiro deste ano quando o projeto começou, mas agora tenho ido quinsenalmente para reuniões com um grupo da comunidade. E não posso deixar de comentar: são pessoas maravilhosas! Nesse tipo de trabalho que eu faço não tem muito jeito. A gente convive por tanto tempo com grupos de pessoas das comunidades que acaba se apegando.

Bem, estive lá no final da semana passada. Foi uma visita no mínimo angustiante. Quando a gente chega nestes locais é como se fôssemos uma ilha de esperança, então só chegam histórias tristes, queixas e pedidos...

Lá ouvi histórias de várias adolescentes grávidas, inclusive uma que tem deficiência física. Muitas engravidaram de funcionários da construção civil que trabalharam na obra do shopping e já não estão mais por lá, deixando para trás seus filhos ainda na barriga e a mãe deles... Geralmente expulsas de casa pelos pais (ou a mãe, ou a avó, ou a cuidadora, na ausência do casal de pais), as adolescentes vão morar com amigas e namorados, ainda na favela. Passam a sofrer agressão física, mesmo grávidas, passam dias sem comer, não fazem pré-natal... Tantas histórias...

É inevitável não ficar angustida. Saí de lá convencida de que o que eu estou fazendo é ainda muito pouco. Gostaria de ajudar mais... Se todos fizessem um pouco seria tão mais fácil...

Bem, atualmente estamos organizando ciclos de palestras para orientar a comunidade, especialmente os jovens. Todos os palestrantes são voluntários (eu serei uma delas). Há necessidade de tratar de vários assuntos como planejamento familiar, maternidade na adolescência, alcoolismo, tabagismo (o assunto "droga" ainda não é bem vindo, mas chegaremos lá), mercado de trabalho, primeiros socorros, nutrição, utilização consciente da água, o papel da mulher na sociedade, aproveitamento integral dos alimentos e muitos outros...

Convido a todos que se interessem em participar como palestrantes a deixar um comentário no blog com um e-mail de contato. Será muito bem vindo!

Só posso dizer que vale à pena. Não apenas o outro é beneficiado. A gente cresce também...

Um grande beijo a todos!
Kell Carneiro

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